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15/06/2014

Da lazeira





Depois de um dia quente, em que nada bulia, nem eu, uma noite quente, que convida a fazer 100m sofá, ou um estatelar-se na cadeira da varanda. Se o primeiro, tem como prémio, uma passagem pelas brasas, a segunda permite, a esta hora, um tempinho de introspecção, ou tão só, cerrar os olhos e ver com os ouvidos. Foi o que fiz, e em segundos, já ouvia o cantar das cigarras. Onde moro, ainda se ouvem algumas, que incapazes de resistir ao betão, se mudaram de armas e bagagens para os jardins das vivendas. Elas e os primos, os grilos, nestas noites quentes, aproveitam para socializar, e gente como eu, tem um concerto afinadíssimo e ao vivo. Como é bom ouvir e sentir tudo isto, o calor, o sossego, a natureza, esta sensação de férias, e a certeza, de que é preciso tão pouco, para termos momentos de felicidade completa.


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  2014-06-15
nn(in)metamorphosis


10/06/2014

Do olhar...







Gosto da linguagem falada, mas a linguagem dos olhos... É um mundo à parte.

Nela, não há erros de redacção, de gramática, ou de ortografia. Na linguagem dos olhos, são impossíveis erros de interpretação, cada olhar é uma frase perfeita, transparente, directa à alma, ao corpo, ao coração - sem nenhuma contradição.

Gosto da linguagem dos olhos... E com certeza, não foi ainda inventada uma ponte mais perfeita...


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  2014.06.09 
nn(in)metamorphosis


09/06/2014

Do tempo...





Tempinho irritante, este. Um dia morno, nublado, chuviscado, com um sol envergonhado que espreita, quando pode, e o vento que me despenteia o cabelo e a paciência.

Está bem, é verdade: Gosto de chuvas de Verão, mesmo tendo pavor das trovoadas. Gosto do cheiro a terra molhada, mesmo tremendo, com a imagem dos rios de lama, que podem levar todos os sonhos por sonhar. Gosto de musicais antigos, onde o galã diz, a cantar à chuva, que é feliz, mesmo que a acção esteja completamente à margem da realidade mas… o que eu gosto, gosto mesmo, é de um sol amarelo, brilhante, num céu azul, iluminando um mar chão. E gosto, tanto, quando o meu sorriso tropeça num outro sorriso, que sorri para mim, assim do nada, só porque sim.

Tempinho irritante, este…



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        2014.06.09
 nn(in)metamorphosis 










06/06/2014

Quando a luz faz doer





Nos dias em que a luz faz doer
Parto as lâmpadas, com a vara de abrir as janelas altas
Deito fora, velas, lamparinas, candeeiro a petróleo e os próprios fósforos
Dissolvo-me na escuridão
E só me denunciam
Os passos, indecisos, inseguros, aos tropeços
Os braços, que se projectam e afastam o nada, esse medo maior
As narinas, que se dilatam provando o ar
As pupilas, que mordem o escuro
Aninho-me, no abraço do negro breu



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         2014.06.06 
nn(in)metamorphosis 




05/06/2014

Amargos de boca





Entro, dirijo-me ao balcão e peço: 2 Bombons por favor
O empregado, já idoso, levanta os olhos do tabuleiro em que dispunha fileirinhas de pequenos doces, de chocolate branco, com precisão de mestre e pergunta-me num tom de cuidado:
- Está com falta de açúcar no sangue?
Não! Respondo no mesmo tom
Estou com falta de açúcar na voz

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       2014.06.05 
nn(in)metanorphosis